Boas práticas para eventos sustentáveis em Portugal
As empresas e organizações de eventos precisam de tomar consciência da imperiosa necessidade de adotar posturas, comportamentos e ações que promovam o bem-estar e a qualidade de vida da sociedade em que estamos inseridos. É também fundamental haver uma gestão ética e transparente associada. Com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para alcançar até 2030, todos temos a responsabilidade de ajudar a alcançá-los, neste caso ao realizar eventos sustentáveis em Portugal. Estes objetivos são ambiciosos e abordam várias dimensões do desenvolvimento sustentável, como a social, económica e ambiental, mas também a promoção da paz e justiça.
Porquê incorporar boas práticas?
A incorporação de boas práticas de responsabilidade social numa organização e nos seus eventos é sempre acompanhada por uma mudança profunda e real da sua cultura e do comportamento dos colaboradores, mas também na relação com parceiros e fornecedores, ao aumentar a cooperação entre estes intervenientes. É uma mudança que traz vários benefícios e vantagens não apenas para a organização, mas também ao meio ambiente envolvente, nomeadamente, ambiental, social, cultural, económico e político:
– o aumento da vantagem competitiva em relação aos concorrentes que ainda não têm preocupações de sustentabilidade;
– com o incremento do nível de exigência e expectativas por parte dos públicos-alvo, há também uma maior valorização e reconhecimento dos negócios que se dedicam a alterar os seus comportamentos por políticas mais sustentáveis;
– a criação de sensação de pertença e propósito por stakeholders e colaboradores;
– o estímulo à economia local e atenção às necessidades da população envolvente à empresa;
– o retorno do investimento com benefícios sociais.
Boas práticas para o seu evento sustentável
Como organizadores de eventos, acreditamos que é possível assimilar comportamentos e pô-los em prática na gestão dos eventos para irem ao encontro da realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Os eventos são também um reflexo das organizações, portanto, é necessário que estes representem as boas práticas institucionais já consumadas na sua gestão e pelos colaboradores no dia-a-dia.
O turismo tem a vantagem de, onde é desenvolvido, criar fluxos económicos significativos, o que pode ser usado a favor das regiões tradicionalmente desfavorecidas. Com o investimento nestas áreas, é possível a criação de emprego e mesmo de novas infraestruturas de apoio. Escolher parceiros sustentáveis economicamente, locais e com a missão de impacto positivo, é uma forma de fornecer qualidade ao trabalho, dignificando-o e investindo no crescimento económico local. Também é uma forma de reduzir as desigualdades dentro do país e de ajudar a promover a sustentabilidade para pequenas comunidades das regiões geograficamente desfavorecidas.
Numa viagem de incentivo, é simples aplicar boas práticas que vão ao encontro desta necessidade de desenvolvimento, quer a partir do consumo e promoção de produtos locais, quer pela criação de atividades que celebrem e deem a conhecer a autenticidade das culturas destas populações, como, por exemplo, a organização de workshops de artesanato ou de artes tradicionais locais. Num congresso ou conferência, é possível investir na cultura local idealizando um programa social com esse foco, com a apresentação de música ou artes performativas, e também escolhendo parceiros de catering com a preocupação de montar um menu tendo em conta o investimento em produtos locais, sazonais e mesmo DOP.
Um evento deveria ter sempre como principal objetivo, quer da parte dos participantes quer dos organizadores, um papel ativo na inclusão e esforço para a igualdade de género e também para a colaboração e entendimento entre diferentes culturas e comunidades, géneros, idades e acessibilidades. Para isto acontecer, como organizadores, é necessário que pensemos não só na organização e coordenação dos recursos técnicos e logísticos, mas também no planeamento de um programa consciente que consiga responder à questão “quais as melhores soluções para permitir a participação e a inclusão social?”.
A saúde e o bem-estar são essenciais para o desenvolvimento sustentável. Na organização de eventos sustentáveis é possível criar oportunidades para os participantes se exercitarem e se consciencializarem para o cuidado com a saúde, tanto em viagens de incentivos como em congressos ou reuniões corporativas. Nestas, é possível criar energizers para começar um dia de trabalho com atividades, como ioga do riso, mindfulness, uma sessão de tai-chi ou mesmo um pequeno-almoço com todos os nutrientes necessários para potenciar o desempenho dos participantes no resto do dia. Nas viagens de incentivos, é possível organizar Human powered activities e atividades outdoor, como caminhadas, passeios de bicicleta ou kayaking, que têm também uma forte componente de espírito de team-building.
O turismo e a organização de eventos são responsáveis por um fluxo enorme de tráfego aéreo, terrestre e de pessoas e, com isso, vem a responsabilidade de diminuir ao máximo a pegada ecológica durante os eventos. Há que escolher conscientemente cidades e comunidades sustentáveis e seguras para a realização, que tenham serviços e infraestruturas de qualidade para ser possível dar uso aos transportes públicos ou a shuttles em vez de transportes individuais e exclusivos para os participantes. Em alternativa, podemos oferecer a deslocação em e-bikes ou percursos pedonais. Em termos de hospitalidade, é importante recrutar parceiros de alojamento e venues com preocupações ambientais, como o fornecimento de produtos locais, o uso de energias renováveis e a utilização de materiais locais para a sua construção e decoração.
Os serviços de alimentação e bebidas são uma área em que é fundamental ter uma postura mais consciente, ecológica e sustentável, pois é uma das áreas em que o desperdício pode ser grande se não forem equalizadas soluções para o prevenir. Entre as muitas boas práticas a implementar, sugerimos oferecer refeições em estilo buffet para evitar as refeições embaladas individualmente e eliminar todo o tipo de copos, recipientes, talheres e palhinhas descartáveis.
Há muitas soluções que são mais amigas do ambiente que se pode utilizar:
– máquinas de água com copos biodegradáveis ou garrafas reutilizáveis, em forma de brinde ou merchandising do evento, em detrimento de água engarrafada em plástico;
– parceiros que consigam oferecer aos seus convidados um serviço com um conceito de “da quinta para a mesa”, de produção local e biológica;
– Ao idealizar o menu de refeições para o evento tenha em consideração escolhas de ingredientes sustentáveis, frescos de estação;
-Eliminação de iguarias de espécies em vias de extinção, priorize o consumo de carnes brancas e incorpore ementas vegetarianas.
No final do evento é importante que, em conjunto com a empresa de catering, se tenha uma solução para fazer a doação dos alimentos e refeições que não foram consumidos pelos participantes. No último congresso realizado em 2020, o 26º CNMI, doámos 300 refeições.
CONCLUSÃO
Para que seja possível implementar as nossas boas práticas de sustentabilidade é necessário unirmos forças com todos os stakeholders. É imperativo informar, educar e incentivar a adoção de boas práticas, promover parcerias com os fornecedores e comunidades locais, reforçar a partilha de experiências e de estratégias de mobilização de recursos e investir na cooperação, como forma de alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Temos de continuar a promover a melhoria de processos, produtos e serviços que nos ajudam a reduzir os impactos negativos nas três grandes áreas da sustentabilidade: no ambiente, na economia e nas comunidades; continuar a investir na redução do consumo de recursos naturais e na geração de resíduos, aumentando o uso da reutilização e da reciclagem.
Temos ainda a responsabilidade de promover, perante os nossos clientes e participantes, soluções e tecnologias que nos ajudam a adaptarmo-nos aos desafios globais sem fazermos parte do problema, mas, sim, parte da solução.
Andreia Silva
Formada em Gestão de Turismo pela Escola de Hotelaria do Porto, conta com uma experiência profissional de 15 anos na área dos eventos, tendo sido o foco do seu trabalho na área de gestão e coordenação de congressos e conferências e de eventos corporativos.